Crepúsculo
Bom dia, rua despida:
Sem pés, sem almas, sem vida,
Andi perdida todo o tempo
Nasceu o sol, cortou-me o vento
Os pensametos sentidos de outrora
Desde o crespúsculo até à aurora;
Sempre vi geada à minha frente
E uma mão dada feita de gente
Sem pertencer a nenhum lado
Corpo vivo, mais morto que inacabado
Voz rouca, majestosa e certa
Como um anónimo sem faceta
Ou identidade ou sono ou rumo
Duas da manhã e eu só fumo
Acende o cigarro e traz-me as cinzas,
Que nada do que em ti finjas
Traz outras palavras à memória
Só o cansaço te termina a história
Sejas novo ou sejas velho
Sangue azul ou sangue vermelho.
E sabes o resto?
É tudo o que eu sei que não detesto
Não tem alma, nem vazio, nem amor:
É um poeta ferido a tentar compor.